quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A HISTÓRIA DE VIDA DE FAETEN

Segundo pessoas comuns, de crença religiosa, a vida é apenas uma passagem, estamos aqui, no mundo, como forma de julgamento. A vida “verdadeira” é depois na eternidade, onde só os escolhidos serão recebidos. Somente os que souberam viver no perdão, na humildade e na dignidade iram conseguir, somente os de bom coração iram passar.
Se mesmo a vida é um caminho, onde as pessoas serão selecionadas para a vida eterna, como se deve viver? Itamar José Faeten, pessoa que diz ter perdido tempo de sua vida, acredita em deus, em fé, em força maior e destina-se vida nova, vida digna, viver diferente.
Nasceu no estado do Rio Grande do Sul, onde foi abandona por sua mãe, que fugiu com suposto namorado. Passou a viver com sua avó, isso até seus 07 anos de vida, aonde sua avó veio a falecer. Com isso, foi adotado por um casal de amigos da família de São José do Cedro, com o intuito de fazê-lo trabalhador nas plantações da família: “foi a pior fase de minha vida, fui adotado como um escravo”. Afirma Faeten.
Parte de sua vida passou por momento de amarguras, tristezas, humilhações, sentindo falta de amor, atenção e carinho, tentou reverter à situação, mas foi muito descriminado pela família adotiva e assim o tempo passava, cada vez mais revoltado: “quando pensava que as coisas iam mudar, piorava, entrei em desespero profundo, então resolvi sair de casa”.
Com 17 anos afastou-se da família em busca de uma vida com mais liberdade, pois até mesmo os estudos teve que desistir para poder ajudar a família nos afazeres: “eu era pau pra toda obra”. Estudou até a 4ª série em escola pública: “tinha muito trabalho e responsabilidade em cuidar da casa, dos irmãos e da lavoura”. Mesmo de pouco estudo Faeten se mostra uma pessoa comunicativa, inteligente, que se expressa muito bem: “passei por muitas necessidades em minha vida, em questão financeira, educacional e sentimental, fui uma pessoa muito carente, não tive auxilio, carinho, nem compreensão das pessoas em grande parte da minha vida”.
Passou por Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, trabalhando como mecânico, pedreiro, garçom: “tive várias profissões”. Faeten relata a história que marca a sua vida: “tudo foi muito difícil, enfrentei muitas dificuldades, comecei a trabalhar de garçom em uma churrascaria de São Paulo, fiquei por 02 anos, até então estava tudo bem, tudo tranquilo. Em um dia de folga sai com meus amigos para beber e junto foi um colega muito metido que gostava de humilhar e incomodar eu e meus amigos no trabalho e ainda perto dos clientes, nesta tarde em momento de lucides, foi que perdi minha paciência, com uma brincadeirinha que ele fez, a qual me fez sentir inferior, dei três tiros para assusta-lo, não acertou nenhuma bala, ai eu fugi na hora, mas depois fui e me apresentei na justiça e paguei a pena de tentativa de homicídio, fui condenado por 7 anos de prisão em regime fechado na penitenciaria de São Paulo, fui réu confesso, foi horrível, a pior coisa que aconteceu em minha vida, sofri demais”.
Depois de cumprida a pena, voltou para São José do Cedro, onde começou a trabalhar, para ter uma vida normal. “A sociedade não me tratou normal, mas a minha família me ridiculariza me despreza, na verdade me abandonaram ainda mais nos momentos que mais precisei de ajuda”.
Nunca teve muitas escolhas, sempre uma vida muito humilde de precisões, foi para Barracão, tentar novas oportunidades: “aqui eu fui acusado de roubo em uma relojoaria e em uma loja de roupas, como não tiveram provas de quem foi o autor do roubo, ainda estou preso. Não tenho condições financeiras para pagar um advogado, no dia do júri à mulher (nome não identificado) me acusou. Como eu não tenho provas suficientes, já faz quatro meses que estou preso e sem previsão de liberdade”. Para Faeten é uma injustiça estar preso.
A solidão o coroe, não recebe visitas de seus familiares: “sempre tive muitos amigos na infância, hoje praticamente não tenho amigo, chega o horário de visitas nas quintas-feiras, me da uma dor no peito...”, pausa e não termina a frase. Passa o maior tempo em uma sela com mais 05 presidiários de faixa etária entre 22 a 30 anos: “aqui todos são meus amigos, falo com todos e me dou muito bem”.
Mesmo desiludido, não deseja a prisão para ninguém: “estar fechado em um ambiente assim escuro, feio, não é fácil, não desejo para ninguém, aqui o tempo é a pior coisa, as horas não passam é uma sensação horrível, não tem como descrever. As refeições não dão para se queixar, aqui me tratam bem, para dormir... Confortável não é, pois prisão não é hotel (risos)”.
Depois de tantos erros e arrependimentos, persiste na vida: “saindo daqui pretendo procurar a minha mãe biológica, recomeçar a minha vida, construir uma família, pois perdi minha juventude preso. Sinto muita saudade de minha avó, ela foi a melhor pessoa que passou por minha vida”.
 Por mais que o tempo não é muito, contanto com o quanto já passou da outra vez na prisão, se arrepende: “se tivesse oportunidade de voltar no tempo, nossa faria tudo diferente, não iria me importar com as dificuldades da vida, ia encarar com mais calma, ir pelo caminho certo e com certeza as coisas iriam ser bem melhores, eu iria viver de verdade a minha vida, assim espero ter o perdão”.
Quando não há mais escolhas, quando as opções acabam, pessoas reagem por impulso, deixando-se levar pela pressão, pelo nervosismo. Tornando-se marionetes presos na vida. A única força que os reagem é a fé, a esperança, uma forma maior que consiste na mente de cada um.
Vivemos por viver, sem querer mesmo ter escolhido estar aqui, mais vivemos por uma causa, por um estimulo criados na força que acreditamos existir.

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Esta foi uma reportagem que me proporcionou uma experiência muito importante e construtiva para minha profissão, foi gratificante. Este artigo foi apresentado em sala de aula na disciplina de Técnica em Reportagem, Pesquisa e Entrevista Jornalistica,tendo como Professor Ricardo Pavan. A região onde foi realizada esta pesquisa foi em Barracão PR em alguns intervalos de tempo de meu trabalho.Tive mais certeza e segurança de que é realmente isso que quero pra mim.Espero que sirva de ajuda para pesquisadores, leitores de assuntos relacionados a essse artigo.